sábado, 4 de junho de 2011

DISLEXIA E OS 4 P’S DA EDUCAÇÃO

Artigo publicado na coluna educação do portal UIPI

A educadora Ely Paschoalick escreve sobre uma consulta que recebeu de um professor de matemática e física pedindo uma explicação prática do uso da metodologia dos 4 P’s da Educação com um aluno portador de dislexia que apresenta também problemas de comportamento.
Quero transcrever a resposta que dei ao físico e matemático que me escreveu, na tentativa de abranger outros professores, alunos e pais que me lêem.
Caro professor,
A maioria dos problemas disciplinares é relacional e, portanto se resolvem fora da sala de aula de preferência em momentos anteriores ao da aula.
Assim sendo dê um jeitinho de se encontrar com seus alunos no portão da escola, nos corredores e se possível até próximo a suas moradias e inicie uma amizade onde eles entendam  que na sala de aula, exige-se regras para o bem do sucesso do aluno na matemática e que o professor é uma pessoa legal que deseja este sucesso aos alunos.
Esta mensagem é passada muito mais com postura e tom de voz do que com palavras. Sendo assim, tenha um tom de voz amistoso e alegre ao cumprimentá-los e se interessar por sua vida social nos corredores da escola, no portão e nos arredores e um tom de voz firme e direto, olhando nos olhos ao pedir atenção em sua aula.
Agora quero falar sobre seu aluno dislexo.
Faça uma boa pesquisa na internet sobre dislexia. "Sopa de letrinhas". 
Segundo o site www.dislexia.com.br:  “Dislexia, antes de qualquer definição, é um jeito de ser e de aprender; reflete a expressão individual de uma mente, muitas vezes arguta e até genial, mas que aprende de maneira diferente...”
Marque um encontro com seu aluno, de preferência em uma mesa de lanchonete ou padaria, ou mesmo na biblioteca da escola (evite salas de diretoria, de professores ou outros locais onde são chamados alunos com problemas ou indiciplinados) e explique a ele o que é a dislexia. Pergunte se ele sabe porque ele troca letras, pergunte se ele já ouviu falar em dislexia e se ele sabe citar o nome de alguns dislexos.
Depois que conhecer as informações que ele já possui sobre dislexia, mesmo que ele saiba tudo e até tenha atendimento com fonoaudióloga ou psicopedagoga, explique para ele que a dislexia é hereditária, que geralmente acompanha uma inteligência acima da média e que Tom Cruz, Leonardo Da Vince, Walter Disney, Albert Einstein são exemplos de dislexos famosos mundialmente como pessoas de muito sucesso em suas profissões.

Explique também que o campo prejudicado pela dislexia não é o da inteligência e muito menos o do raciocínio lógico e sim o mecanismo de transição ocular (caminhar ou correr dos olhos ao ler e na mudança de foco de uma sílaba à seguinte), o que faz com que a palavra passe a ser percebida, visualmente, como se estivesse borrada, com traçado carregado e sobreposto. Sensação que dificultava a discriminação visual das letras que formam a palavra escrita. Como bem figura uma educadora e especialista alemã, "... É como se as palavras dançassem e pulassem diante dos olhos do disléxico".
Por isso a confusão no campo da orientação do que vem à esquerda e à direita o que pode ocasionar a troca de letras e números ao transcrever de uma lousa para um caderno ou mesmo de uma linha para outra do caderno.
Por exemplo,  escrever 654, 546 ou 645 quando desejava era escrever 564. Ou seja, troca a posição dos números.
Explique a diferença entre matemática e aritmética e diga que o dislexo costuma ser excelente em matemática e sofrível em aritmética.
Exalte e parabenize pelo esforço que ele fez para chegar até esta série com estas dificuldades que a maioria dos dislexos abandona os estudos e se sente burro para os estudos acadêmicos e formais da escola.
No entanto se tornam grandes comerciantes e resolucionadores de problemas (matemática)  utilizando máquinas ou funcionários para as contas (aritmética).
Cite como exemplo as dificuldades que os dislexos têm no quarto ano do Ensino Fundamental (terceira série) quando começam as expresões aritméticas de mudar de linha e copiar sinais e as frações e decimais de mexer com a vírgula. O mesmo se repete no sexto ano (quinta série) e o quanto ele, seu aluno de física, foi e é vitorioso por conseguir vencer isto e que ele vai continuar vencendo.
Sempre exaltando seus esforços e inteligência converse com ele que, por enquanto, dislexia não tem cura e que a única coisa que se tem a fazer é compreender suas trocas de letras e de números e ficar SEMPRE ALERTA.
No entanto jogos de sete erros, caça-palavras, palavras cruzadas, são atividades que auxiliam o dislexo a prestar atenção visual e assim conseguir melhor desempenho na verificação de suas produções escritas e numéricas.
Informe a ele que por lei o dislexo tem direito a provas separadas em lugar sossegado e direito a não ser penalisado nos erros por dislexia.
Informe a ele que você, como professor de matemática e física, vai auxiliá-lo desde que ele se demonstre empenhado em fazer as atividades de busca de sete erros e caça palavras.
Pergunte se ele quer sua ajuda, feche um contrato de colaboração com ele, dando as mãos e lhe presenteie com um almanaque de jogos de sete erros e caça palavras e marque páginas para cada dia e um novo encontro daí à 10 atividades feitas.
Depois me escreva contando como foi sua pesquisa sobre dislexia e este encontro com seu aluno dislexo.
Em relação aos 4 Ps da educação quando você passou informações para seu aluno sobre o que é dislexia e como agir frente a dislexia e como melhorar a atenção e concentração você praticou o primeiro P que é o da PROTEÇÃO.
Você não superprotegeu porque não está consolando e sim fazendo uma proposta de mudanças e progressos e também não abandonou porque não está excluindo. A superproteção (fazer ´pelo outro o que ele é capaz) e a desproteção ou abandono (deixar para lá ou fazer de conta que não viu) são os dois limites da proteção verdadeira que é passar informações e estar junto para que o aluno vença dificuldades.
Quando você fecha um contrato de atividades extras como busca de sete erros e caça palavras para auxiliar o quadro de dislexia você está praticando o quarto P que é a PUNIÇÃO através de contratos. É ruim tarefas extras, sim. Mas você o motivou e o enlaçou em um contrato de responsabilidade sobre tais tarefas. Com prazo e quantidade de atividades.
Quando você exalta a sua inteligência e a sua capacidade de, apesar de sua limitação hereditária - a qual ele não tem culpa e nem controle - ele venceu e foi capaz de chegar na série que está, e superar as dificuldades de aritmética continuando a ser e se sentir inteligente, você está praticando o terceiro P que é a POTENCIA. Ser forte o bastante para provocar mudanças comportamentais e interromper o erro mas deixar o aluno sentir-se forte e potente para enfrentar e vencer desafios.
Quando você fecha um contrato, dá uma tarefa para ele, expressa que ele é capaz e que você está investindo seu tempo nele porque crê em sua capacidade e consegue que ele se permita desafiar-se para vencer dificuldades voce está praticando o segundo P que é a PERMISSÃO.
Você está dando permissão interna para seu aluno sair do mundo de lama em que se sente atolado e entrar na normalidade e produtividade.
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Saiba melhor quem é Elypaschoalick lendo aqui.

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